(ou: “da distinção social e das coisas sidas que hoje seriam condenadas pelos outros”)
será que para me distinguir, além do esmero com a escrita, terei que amar o bush, mandar “beijo no coração”, voltar às telenovelas, virar kantiano, centro-direitista, defender o “sertanejo” (e ponha-se aspas nisso!), entender a vera fischer e o joão gilberto, comprar a discografia do zeca pagodinho, achar que a moral se perdeu e que é necessário fortalecer as bases sólidas da educação familiar nos moldes TFP, dizer que mozart envenenou SIM o salieri!, será, meu deus, será que terei que virar católico renovado carismático e amar o papa!, virar vegetariano ou o contrário, achar que a melhor aquisição da ABL foi o paulo coelho, aderir à semiótica peirceana, assinar a veja, será??
meu deus, onde é que foram parar os ideais de aristocracia? talvez eu sinta uma saudade, típico bucolismo de quem nunca foi ao campo (semelhante ao parnasianismo – esses brasileiros falando de musas, que coisa singular… – e isso porque dizem que a pós-modernidade começou no século XX. “aham. sei.”), talvez eu tenha essa saudade disso que eu chamaria de belle époque em que ao menos eu poderia achar facilmente uma diferença entre um homem distinto e essa massa de destintos que é “formadora de opiniões”. sim, porque o jô soares e o arnalado jabor não são homens inteligentes, o pedro bial não é simpático, a glória maria não é uma boa apresentadora (além de sempre errar feíssimo no figurino – aliás, o zeca camargo deveria intervir mais às vezes…), o gilberto mendes não é a panaceia, um saramago ou um garcía márquez não merecem um nobel mais do que um joão guimarães rosa, não, não e não.
enfim, há que se garimpar qualquer distintivo ou insígnia. existe um abismo entre alguém que odeia o bush e alguém que odeia o bush. mas a pós-modernidade, essa invenção retrógrada, reacionária e neoburguesa, nos (a quem, afinal?) fez o grandessíssimo favor de acabar com tudo isso.
então eu digo amém e me calo, que falar ou não falar é mera questão de escolha, ou jogos de poder, ou jogos de linguagem, ou de decisão, ou de criação, ou de qualquer teoria que sustente um discurso. mas isso é moderno, eu sei. e não é isso que, de uma forma ou outra, mantém o pós-moderno em pé?
o que põe em xeque-mate o próprio “pós” do termo em questão.