– Alberto, traga mais um gim tônica para mim, e para a senhorita…
– Um hi-fi.
– um hi-fi, por favor.
– Então, como te dizia, há essa ironia dos espaços de associação. De alguns, ao menos. Espaços de sociabilidade nos quais não se conversa muito. Veja nosso caso: eu à beira do bar, você à beira da piscina, pontilhando como dois cactos floridos o deserto desse clube.
– Nem tão irônico, se olharmos as estampas de meu maiô e de tua camisa.
– Ou duplamente irônico. Como o mistério de um clube vazio que se mantém de pé. Quem sustenta isso tudo? Quero dizer, o vazio, o orçamento…
– Não sei. Mas alguns mistérios não servem para serem apenas vividos?
– Ou degustados.
– Ou sorvidos, como os drinks.
– Tudo muito chique, não?
– Como se viver fosse glamoroso.
– Mas não é? Quero dizer, os vazios que escolhemos criar não nos dão essa sensação de que até podemos preencher o mundo com algo realmente interessante?
– De fato. E essa gente que fica de fora nos olha como se estivéssemos num aquário.
– Sem poder entrar.
– Sem poder entrar.
– É que lhes falta etiqueta, finesse, um je-ne-sais-quoi…
– Gente pouco cordata, não?
– De fato.
– Mário Augusto.
– Sim?
– Não te parece que vivemos uma vida de luxo? Quer dizer, essa gente…
– Descanse, Wanda. Sempre resta a caridade e os convites avulsos para frequentar nossos círculos.
– Deus me livre! Melhor viver com peso na consciência.
– Melhor não tê-la.
– Melhor não tê-lo nela.