Spinoza pensava a alegria como aumento da potência de agir. Lembrei-me de quando nos conhecemos e te escrevi falando sobre alegria, sobre como queria fazer as coisas para e por ter você por perto. Guardo sempre esse texto, embora creia que esteja já turvo em nossas memórias.
Não importa. Hoje, e diariamente, sinto que posso agir menos e com menos intensidade. Tristeza para Spinoza e para mim. Mas penso em como alegrar-me, em buscar uma via ativa, em como posso desentravar meu pensamento. Ando triste, e ter tua imagem em meu horizonte me lembra de como fui redescobrindo, há alguns anos, que poderia agir novamente.
Alguns diriam que continuo guiado por afecções, que agir em razão de uma presença outra é apenas sucumbir a uma causalidade diversa. Não creio que haja possibilidade de vida sem padecimento, mas também não há submissão aqui, pois reencontro, aos poucos, alguma nesga de força.
Mesmo nas horas mais insuportáveis, penso em ti e quero saber qual vida podemos levar juntos. Não quero ser domado pelo que me entrava, mas criar modos de atravessar inteiro aquilo que me atravessa.
Há um quê trágico na alegria quando, na ocasião em que não se pode escapar do fardo da existência, decide-se assumi-lo como mote de vida. Quero tudo, que tem sido quase nada; mas, assim mesmo, o desejo como se fosse a última chance de fazer alguma coisa. Quero essa miséria como minha de direito, como minha possibilidade de vida, e não de morte. Afirmo-a diante do abismo, equilibrando-me em ponta de bailarina. Giro um pouco, doem os dedos; permaneço em ponta, sangrando até depois do último aplauso. Depois disso, escalda-pés, banho e cama, com a sensação de ter feito de minha dor a mais bela forma e ação de que fui capaz.
Alegro-me, pois, sem estar feliz, sem estar satisfeito, sem sequer sorrir de canto. Alegro-me doendo, porque, agora havendo apenas dor e confusão, ao menos que eu as converta em movimento.